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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aprendendo com os filhos

Tem gente que acredita que criança, além de obedecer aos pais, não tem nada mais a fazer. Vão aprendendo com o entorno, com os adultos de seu convívio, e a partir daí vão formando sua personalidade e seu caráter. Eu não estou tão segura disso. Porque existem coisas que não se ensinam. Há algum tempo eu conversava com um amigo sobre a índole das crianças. Isso depende dos pais? Da escola? Dos lugares que frequentam? Como explicar o caso de gêmeos, que vivem no mesmo ambiente, estão submetidos aos mesmos estímulos, e ainda assim são tão diferentes?

Antes de ser mãe, eu me perguntava se seria um bom exemplo, se saberia educar, se conseguiria fazer meu trabalho direitinho para que meu filho fosse uma boa pessoa. Hoje posso afirmar que meu trabalho mal começou, mas tenho certeza de que meu filho é uma boa pessoa. E que não sou só eu que represento um exemplo para ele, ele é um exemplo para mim.

Outro dia, naquele casamento que fomos, havia um primo do noivo, de não mais de cinco anos, brincando de carrinho com outros meninos. Os olhinhos do meu amor brilharam, mas eu consegui distraí-lo e ele acobou indo ficar com o vovô. Depois de um tempo vi que finalmente ele tinha conseguido colocar as mãozinhas em um carrinho, mas brincava com outra prima, essa de sua idade. Daí fiquei lá com eles, depois tiramos fotos e em determinado momento, quando aquele menino viu seu brinquedo na mão da minha criatura, foi ali e simplesmente arrancou o carrinho dele. Deixou o brinquedo em cima de uma mesa e saiu correndo com os outros amigos, mas não sem antes dizer uns quantos desaforos para o meu pequeno, que começou a chorar desconsolado, aqueles lagrimões rolando pelo seu rosto, os olhos vermelhos. Sentida, me abaixei para conversar com ele, e quase sussurrando em seu ouvido lhe pedi desculpas por não ter levado nenhum de seus carrinhos para a festa, que seus brinquedos estavam em casa esperando por ele e disse para que não se importasse, que agora ele iria dançar com a mamãe e que isso era bem mais divertido que brincar de carrinho. Eu não acreditava muito nas minhas palavras, mas ele pareceu concordar, assim que sequei suas lágrimas e fomos andando para a pista de dança de mãos dadas.

No meio do caminho ele viu um outro carrinho embaixo de uma cadeira e se deteve. Pegou o brinquedo e saiu disparado na direção contrária à que íamos, procurou o menino que tinha acabado de ser terrivelmente grosseiro com ele e com um sorriso nos lábios lhe devolveu o brinquedo. Eu chegava justo nesse momento e pude ver o olhar raivoso do menino, que mais uma vez tomou o brinquedo de suas mãos, e continuou a dizer grosserias para o meu rapazinho. Mas esse, magistralmente, já tinha dado meiaa-volta e ainda sorrindo, deixou o menino pra trás simplesmente falando sozinho! Estendeu a mão para uma mamãe atônita que o observava e juntos fomos dançar. E quando estava já no meu colo na pista de dança, depois de ter digerido a situação, lhe parabenizei por seu comportamento, lhe disse que era um menino muito bom e que a mamãe o amava muito.

Depois daquilo fiquei pensando em muitas coisas. Um simples gesto do meu filho me fez reavaliar meu comportamento, já que perdi essa inocência há muito tempo. Pude ver aquele sorriso de satisfação em seu rosto depois de ter devolvido o outro carrinho ao menino. Pude perceber que apesar de ter ficado magoado porque o outro lhe privou de um brinquedo simplesmente porque sim, ele fez o que devia ser feito. E ainda, largou o menino lá plantado com suas palavras de arrogância, sem se deixar abater.

O que eu teria feito? Ao ver o brinquedo embaixo da cadeira, teria passado direto. O menino foi estúpido comigo, não merece minha consideração. Não é da minha conta. Tomara que nunca encontre o brinquedo. Bem-feito.

Muitas vezes não fazer nada, ou não fazer o que deve ser feito, também é uma forma de revidar uma agressão. Chegamos ao ponto de ir contra a nossa natureza, conseguimos agir de maneira contrária à que pensamos só para não dar o braço a torcer, parecer fracos ou submissos. E ao fazer isso, não é o outro que perde, mas nós mesmos. Em algum momento de nossa jornada as pancadas começaram a ficar mais pesadas e o escudo criado para nos proteger da dor acabou por nos privar da vida em si. E o medo de sofrer de novo nos paralizou até nas boas ações.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Picatu

A simplicidade das crianças é algo que sempre vai me comover. Quando exatamente deixamos de acreditar nas coisas simples e belas da vida, de fato as mais importantes? Talvez tenha sido depois daquela milésima decepção que nos fez ver que o mundo não é cor-de-rosa. Mas ainda assim existem as nuances, e aconteça o que acontecer, sempre devemos agradecer.

Quantas vezes paramos pra agradecer o sol quentinho que entra pela janela de manhã cedo, mesmo que seja segunda-feira? Ou a chuva que cai fininha no rosto provocando um arrepio de frio? Ou até mesmo o sinal fechado que nos atrasa alguns minutos, mas que nos permite ouvir um pouco mais daquela música tão bonita que está tocando no rádio antes de que entremos no túnel? Eu não sei vocês, mas eu agradeço todas as noites as coisas maravilhosas que me aconteceram durante o dia, e até as ruins, porque são essas que me permitem nesse momento refletir e repensar o rumo que estou dando à minha vida, o que eu realmente quero para mim e para os meus. E claro, tento passar para o meu pequeno os valores que me parecem de maior valor. Todas as noites rezamos para o Papai do Céu com as mãozinhas juntas, ainda que ele diga "Não, mimir...". Daí eu rezo sozinha no ouvido dele, ele reclama um pouco, mas sempre acaba participando, porque nossas preces são assim, fluidas, fresquinhas. E são desse jeito:

"Papai do Céu, obrigado pelo dia de hoje,
pelos meus amiguinhos e minhas professoras (essa parte é livre, agradecemos pelos acontecimentos do dia, e quando me lembro digo também "Prometo ser um bom menino e obedecer a mamãe").
Cuida de mim e de todo mundo que eu amo.
Que assim seja."

E ele percebe que as palavras mudam, começou a dizer "mamãe" depois dos amiguinhos e das professoras (coisa de mãe, a gente sempre acaba se excluindo), até que ontem resolveu agradecer por todo o seu pequeno mundo numa prece quase sem fim, mas que me tocou a alma. Depois que já havíamos acabado, ele ainda deitado falou "Picatu vovô, picatu vovó... Dani também" Achei lindo e concordei, afagando seus cabelos. Passados uns segundos ele levantou a cabeça e disse "Mamãe, picatu cama" ao que respondi comovida "Muito bem filho, agradece ao Papai do Céu pela sua caminha quentinha" E um pouco mais tarde, voltou a levantar a cabeça "Picatu Ênio e Beto, picatu nhanha (Homem-Aranha), picatu girafa" Rindo lhe disse "Filho, acho que Papai do Céu já te ouviu e está muito feliz, agora deita e fecha os olhinhos para dormir", mas ele continuou "Picatu ShekViona (Shrek e Fiona), picatu Manu (o "bibin" Happy Feet), picatu moçu (que o atendeu quando ele chamou para comprar uma sandália para a escola)" E não descansou até incluir em nossa prece tudo aquilo que era importante pra ele.

Não sei o que fiz para merecer uma criatura tão linda ao meu lado e espero não decepcioná-lo jamais. Mas a verdade é que é ele que me surpreende a cada dia com seus atos, seu caráter e sua moral. Porque isso é dele, por mais que eu me considere uma boa mãe e tente mantê-lo sempre no caminho do bem.

Obrigada Papai do Céu, por esse presente divino.
Não me cansarei de agradecer.
Todos e cada um dos dias da minha vida.
Minha vida com ele.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mamãe em forma (ou fora dela!!)

Trabalhar durante o dia e ficar com o pequeno em casa à noite não me deixa fazer atividade física alguma, a não ser pendurar roupa, varrer a casa e fazer abdominais no chão do quarto quando a disposição permite. Ou seja, há mais de dois anos que não entro em uma academia (minto, cheguei a fazer Curves entre o trabalho e a creche, mas durou menos de quatro meses...) Queria mesmo era nadar, adoro água, e tem uma piscina deliciosa no clube aqui do lado de casa que me dá água na boca cada vez que chego na varanda. Mas enquanto a agenda não permite, me contento com uma folhinha de alface e um queijo magro entre uma pizza e outra.

Duro mesmo é ver seu filho de dois (dois!!!) anos se colocar na pontinha dos pés dentro do elevador para tocar com os dedinhos a sua barriga:
"Mamãe, olha!"
Você abre os braços achando que ele gostou da estampa do vestido. Doce ilusão!
"O quê, filho?"
"Neném!"
Você fica séria, olha atônita o namorado, volta a olhar para a criança e pergunta:
"Onde?"
E sorrindo aquela coisinha sapeca te responde:
"Na barriga da mamãe!"

Senta e chora. E depois cai na gargalhada! Porque rir da desgraça alheia não tem graça, o bom mesmo é rir da nossa!!

domingo, 18 de outubro de 2009

Frase do dia

Ontem, no casamento do Rapha e da Sama, em uma cerimônia emocionante:
"Um filho é um pedacinho do céu que cai perto da gente."

sábado, 17 de outubro de 2009

Compartilhar

Uma das coisas mais tristes de ser mãe solteira é não ter com quem compartilhar as pequenas coisas. Aquele primeiro risinho do bebê, o sorriso, as carinhas engraçadas e até um jato de cocô molinho que sai justo quando você está no meio de uma troca de fraldas e te acerta bem no meio da barriga. E você olha pro lado, rindo feliz, querendo contar e mostrar, e ali não tem ninguém. Você percebe então que esse é o desafio, são só vocês dois, e ele é o seu presente.

No caso do cocô, a mulher-polvo aparece. Você não fazia nem idéia que ela existia, aliás, você não fazia idéia de muita coisa antes daquela coisinha linda entrar na sua vida. Uma mãe tem dez mãos, oito braços, seis pernas, voz de trovão, canta como os anjos e tem o maior coração do mundo, cabem tudo e todos ali dentro. Ela é especialista em pequenos dodóis, mordidas de mosquito no meio da noite, suquinho no canudo e potes com biscoito, incorpora com perfeição o Homem-Aranha e imita como ninguém o leão, arrancando risadas gostosas daquela boquinha cheia de dentes. Enfim, ela é altamente especializada...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Minhoca

No troninho, de manhã cedo, depois de fazer a inspeção:
"Mamãe, minhoca!"

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A aventura de ser mãe

Já tinha ouvido falar muitas coisas sobre o assunto, boas e ruins, e a verdade é que eu não queria isso pra mim. Nada contra, sempre adorei criança, mas não me via presa a horários de dar de mamar, ser responsável por uma criaturinha, dar o exemplo. Eu posso comer qualquer coisa, mas criança precisa de uma dieta balanceada, o que eu ia preparar pra ela se meus dotes culinários são tão limitados? Além disso, precisava terminar a faculdade, ter um emprego estável, casa própria, um bom marido, carro na garagem, dinheiro suficiente para comprar roupas e pagar uma boa escola. Precisava esperar o momento certo. E sendo toda errada, simplesmente decidi não ser mãe. Besteira...

A tal natureza bateu à minha porta de repente e foi como se eu tivesse acordado de um dia para o outro pensando "Quero ter um filho".  Aos trancos e barrancos, depois de quase dois anos de tentativas frustradas, a notícia: estou grávida! E foi a melhor coisa que podia ter me acontecido. Ainda sendo toda errada.