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domingo, 6 de dezembro de 2009

Capítulo "1 ano e 7 meses", tópico "A Mamãe"

Hoje posso dizer, como mulher, que não existe nada mais frágil e vulnerável que uma mãe solteira. Ver-se ali, com aquela criaturinha em braços, olhar em volta e não ter ninguém ao lado, nenhum homem que a ajude e ampare, é como ter uma tempestade de neve no estômago. Você fica com medo, esquece completamente toda a força da mulher que existe dentro de você (na verdade, você nem se lembra que é uma mulher!) e qualquer um que se aproxime com uma cara amistosa e disposição pra te ajudar com o rebento, pronto! Você acha que está apaixonada e que encontrou o homem da sua vida. Você se entrega, se rende, e pensa que se não tiver mais aquela pessoa ali ao lado, não vai conseguir. Mas aquela pessoa nem sempre é o que você espera de um homem, nem sempre está disposto a te dar o que você precisa ou a cuidar realmente de você. Só que dadas as circunstâncias, você aceita qualquer coisa, sem perceber que qualquer coisa é muito pouco, muito menos do que você merece. Você se transforma em uma mendiga de sentimentos, recebendo cada migalha como se fosse um banquete, e se acostuma a viver faminta.


Acho que isso acontece porque nessa hora fala mais alto a Mãe que a Mulher. E a Mãe é aquela parte de você que faz qualquer coisa e aceita qualquer situação em benefício da criança. A criança vem em primeiro lugar e você se anula completamente por isso. Hoje eu vejo que todos os problemas que tive nos últimos quatro meses surgiram à raiz disso. Porque nenhuma mulher consegue se anular pra sempre.

É possível arrastar uma situação complicada durante algum tempo, seja o homem que você tem ao lado o pai da criança ou não. Mas não tem como isso se prolongar, porque chega uma hora em que você já está completamente sem identidade, já se entregou e está sendo levada pela maré. O problema é que se você não nadar, você se afoga, e existe uma pessoinha que depende de você! Mais uma vez, aquela criatura te salva, você reúne como pode as forças que achava que não tinha mais, sai da situação, machucada até os ossos, com a alma em frangalhos, mas viva! Você e seu bebê. Como sempre foi, como sempre vai ser.

É um erro achar que um filho vai tirar sua identidade de Mulher. Um filho te dá uma nova identidade, o de Mãe, mas a Mulher vai continuar existindo e não pode ser negligenciada. Não é porque você agora é Mãe, que deixou de ser Mulher. Pelo contrário. Só quando você consegue incorporar e aceitar essas duas identidades como complementarias, é que você pode finalmente estar em paz. Em paz consigo mesmo, com a vida que se desdobra à sua frente com tantas possibilidades, com essa nova identidade que lhe foi ofertada como uma dádiva dos Céus. E quando a Mulher existe, a Mãe desempenha melhor seu papel, porque a pessoa se ama como um todo. E aí tudo pode acontecer! Tudo fica mais claro, o mundo parece mais colorido e você tem a garra e a coragem de seguir em frente. Você se sente forte pra criar seu filho, pra educá-lo, e passa a se sentir confortável com estar solteira, porque agora a escolha é sua. Você se torna mais exigente porque sabe que pode. E você se sente tão forte assim porque se ama e se cuida. Simplesmente porque você se permite ser Mulher.

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Mais do que nunca percebo que a vida se desdobra em ciclos, ora estamos bem, ora estamos mal, ora lá em cima, ora lá embaixo... Mas nunca permanentemente no mesmo lugar. Ainda bem. Ainda bem que sou capaz de aprender com meus erros (eventualmente), que sou capaz de mudar de opinião e de mudar de rumo, que caio e me levanto, que sou capaz de sorrir e de chorar. Porque tudo isso é viver e tudo isso sou eu. Se faltasse algo, não seria eu. E ainda bem que não falta!

Mais difícil que recomeçar é permanecer estagnado e não viver...

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